quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Síndrome de Prometeu

Quando sua vida começa a parecer uma música de pagode que remete a “amor” e álcool, você sabe o quanto está se tornando ridícula. Quando você negligencia as únicas coisas pra que está dando ao trabalho de fazer é que você sabe que precisa algo mais. No meu caso, pelo menos, sei que é. Nunca fui de deixar pra trás algo que é objetivo de minha vida, e quando acontece, é porque eu preciso de mais algo pelo qual tenho que seguir em frente. É quando você prefere ficar na rua ao ir pra casa que você percebe isso. Tentar encontrar motivo de qualquer coisa no fundo de um copo ou no filtro de um cigarro depois de um dia cheio é, no mínimo, deprimente. Não tem nada em casa, o que vou fazer lá? Ver o nada se despir na minha frente mais uma vez e me devorar devagar, sem pressa, porque sabe que eu não tenho mais o que fazer? Pelo menos ele me ignora um pouco quando estou fora, pensando que ele só fica no meu quarto, me esperando deitado na cama. Nem é. Quando eu olho pro lado, desolada, e ninguém entende porque, é quando estou olhando pra ele, rindo de mim e dizendo o que vai fazer comigo mais tarde. Quando fecho a cara até praqueles pra quem eu deveria sempre sorrir por fazer em meu dia melhor, é porque o nada me lembra que ele me acompanha mais do que todos eles. Não é culpa deles, é minha mesmo. Abraço-me com o nada até sem motivo, pois já me acostumei com ele. Até agora, ele não me traiu. Só me chama de tola mesmo, mas isso eu já sei que sou. Ele prefere que eu fique com qualquer um que me ache como o presente da noite, mas prefiro ele mesmo. É o nada que me fere, mas ele mesmo me cura, pra poder me ferir de novo. Não sei se aguentaria ser ferida por mais alguém. A cura pro nada seria outro alguém que deveria me dar, mas até agora só deram mais motivos pra o nada me devorar mais devagar ainda. Sacrifício tolo, eu sei. Mas pelo menos o nada me dá atenção.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Talvez, luz

Seleciono. Organizo. Tabelo. Tudo tem que ter um nome. Tem mesmo? Não, não tem. O mal do ser humano é querer definir tudo em palavras. Cá estou eu errando mais uma vez, mas só assim consigo me sentir viva. As engrenagens param e eu consigo descer. Só por um tempo, pois logo, logo eu me juntarei de novo a essa maquinaria. Vagarosamente, sem entender muita coisa, como sempre, vou tentando juntar as peças desse quebra-cabeça que vai me revelar o nada que isso tudo representa.

O que era prazer virou vício, e o vício se tornou tédio. Todos eles me matavam, mas ter “evoluído” para esse último me mostrou que os outros dois só me levariam ao caos maior ainda. Já não consigo entender quem vive em uma busca incessante pelo que vai desaparecer já. Agora mesmo, aliás.

Olha bem pra mim, criatura, e me diz o que foi que tu levaste daqui. Está vendo essas lágrimas? Duas opções: Ou são de gente tão medíocre que tu é que servias como fonte do banal e grotesco para eles, ou, como eu, são pessoas que choram de pena de ti, que vieste ao mundo e não fizeste bem nem a ti, imagine a quem te rodeava e merecia isto.

E voltamos a visão pra cá. Pro reflexo do desespero de isso não aconteça nunca mais. Seria melhor buscar esses pequenos, caros e passageiros prazeres? Só se o cobrador não estivesse sempre li, à minha porta, me sugando cada linha dessa pseudo vida que tenho, me mostrando o quão tola já fui.

Claro que sou eu mesma me esperando à porta. Nada mais cruel e justo. Mas um dia eu atravessarei essa porta.

Continuo a etiquetar os dias. Sem sentido, sem lógica, vários rumos, uma solução. E é nesta última que eu persisto. Enfraquecendo, padecendo, torcendo pra que a esperança se vá, parando de me chamar de tola. Sozinha, só me restará a força. Com a esperança, a cegueira que ela me trás só me faz imaginar como o mundo seria se eu tivesse ajuda.


Devo continuar cega?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Auto independência mal proclamada

No auge da minha procrastinação e da minha falta de interesse por tudo que muitos julgam ser necessário, descobri que estou certa. Não, o mundo não foi feito em 7 dias, mas talvez em 7 dias esse universo dentro de mim consiga mudar um pouco. Talvez abrindo os olhos praquilo que eu deixei ali no canto. Praquilo que eu alimentava aos poucos e que agora precisa de uma dose especial de ânimo. Sem isso, quem vai adoecer sou eu.

Não, eu não nasci ontem. Eu nasci faz pouco tempo mesmo e já estão me dizendo pra cuidar da minha própria vida. Só esqueceram de comentar que eu sempre fiz isso. Aquela velha trave nos olhos chamada egocentrismo nunca deixou que vissem que eu sempre fui dona de mim, até quando parecia ser a mais vendida das criaturas. Há pouco tempo me convenci que interesse não é uma palavra tão feia assim. Uso disso pra não me culpar por certas atitudes e certas máscaras que me obrigo a usar. Se é errado, eu não sei. Ou finjo não saber. Só sei que se eu tirá-las, algum tipo de monstro vai ter que sair. Pra alguns, um que quebra todas as regras de convivência em sociedade. Para outro, um bichinho sincero. Se esse último fizer sucesso, mais máscaras vão cair, e talvez menos incômoda vai ser minha presença.

Respirar às vezes faz mal. Não, não é só porque eu tenho problemas respiratórios. Respirar certas ideias deixadas no ar andam me deixando zonza, inquieta. Morrer me privando de respirar parece uma alternativa um tanto quanto encantadora. Mas não, ainda vou achar algo que purifique essa névoa escura que me cerca às vezes. Talvez eu já tenha achado, mas não soube aproveitar ainda. Talvez eu nem seja digna de usar algo assim. Dançar em volta disso já me faz feliz, mesmo ainda tonta. E é assim eu que eu vou continuar até eu achar que é necessário.

Ou até que o ar se torne irrespirável.


P.S.: Teve um pouquinho de influência da música My Body is a Cage, do Arcade Fire, sim. Mas só um pouquinho.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Não mais essa voz

Decidi que não vou mais. Sério, não faz sentido. É escuro e denso, não dá pra se mover. A gente não sabe quando está dentro ou fora, a não ser quando se bate de frente com algo. É algo bem tateável, que quando chegou aos meus olhos, me deixou cega por um bom tempo. Fiquei me arrastando no chão, seguindo o que aquela voz dizia, sem questionar. Era minha única saída, ou eu achava que era. Teria ela me hipnotizado também? Não duvido.

Mas aquela voz nunca me deixou provar o gosto que tudo aquilo tinha. Eu estava ali, pronta pra saborear a situação como se fosse o melhor prato que eu iria comer. Iria devorá-lo com a calma de quem sabe que cada momento é único, mesmo que ela possa se repetir.

E a voz me julgou tola. Incompleta, talvez. Eu era seu pequeno entretenimento gratuito. Ver-me me debater nas paredes para encontrar uma resposta praquele enigma era muito divertido. E quando caia em suas armadilhas? A voz ria, caçoando de mim, a mais tola das criaturas que já caíram ali, sem dúvida.

E eu soube me lavar de tudo isso. Gritei: “Não, não vou soltar mais meus cabelos. Voz, o ar que tu baforas em mim faz com que cada fio de cabelo meu queira ganhar vida e saia pra viver mais do que eu aqui.” E me lavei na primeira fonte que vi no caminho. Foi difícil, mas achei uma saída.

E realmente nunca mais voltarei. Tua voz deixou de me hipnotizar e o gosto não me interessa. Pro labirinto do teu ser, não volto nunca mais.

Vou me perder em outros labirintos onde eu saiba que há um fim.

Sempre com novo começo, claro.

domingo, 4 de julho de 2010

Bem além

Além dos gestos
Além dos olhares
Além daquilo tudo que eu rejeito
Além do que eu tento tratar de esquecer
Além do que eu tento mudar
Além do que eu faço para mudar

Sou eu, novamente me colocando contra a parede
Querendo saber quando esse teatro vai fechar as portas
Quando minha carta de demissão vai ser expedida
Para que não jogue todos os papéis fora novamente


Deixe-me inalar algo que não seja a realidade


Como? Você vai já descobrir

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Demagogia amorosa

E eu te adoro. Aliás, é pouco. Eu te amo. Todos os cheiros e luzes que você me proporcionou são suficientes para isso. Tu me deste os melhores momentos das últimas semanas que nenhum outro ser que passou por mim poderia me dar. Por isso já posso esbravejar aos quatro ventos a palavra mais forte que o ser humano tem e talvez a mais utilizada. Nós, de mãos dadas agora, podemos mostrar a todos que nossa felicidade é superior.
Seria mesmo isso o amor que o resto dos humanos julga ser? Esse tremor nas mãos que em todas as páginas ditam ser amor não pode ser algo diferente? Talvez não. É difícil acreditar que tantas páginas sejam escritas só para parecerem felizes. Acreditar nisso não funcionou nas outras vezes, mas o que posso fazer além disso? Desacreditar na sinceridade das páginas e na beleza dos sorrisos esboçados nas praças?


Algumas páginas, beijos e suor compartilhados entre eles e outros...

Eu te odeio! Como pude acreditar que meu sentimento tão sincero era correspondido? Nossos olhares ao redor não significaram nada além de mais oportunidades? Controlei-me à toa ao recusar todos os outros amores disponíveis? Irei me agarrar ao primeiro que se apresentar e se mostrar melhor que tuas (in)jur(i)as.


E eu, que sempre escolho minhas palavras como se estivesse as levando para casar, estranho e sangro, mesmo sem saber se aquilo realmente tem uma fina camada de desespero ou de interesses exteriores, cada vez que essas palavras ou semelhantes me golpeiam, mesmo sem querer:



Hey, você! Eu acho que te amo!






Feliz dia dos namorados atrasado, minha gente!

sábado, 22 de maio de 2010

Ana: Falida e Opaca

Ana, tu te lembras?

Um dia, quanto tu querias fazer de teus olhos centro do universo e construir ao redor deles uma imensidão de cores e sentimento, te disseram que era tolice querer brilhar. Fizeram-te opaca quando tu emanavas luz e calor, podendo iluminar até os mais distantes.

Tu perdeste cor, Ana.

O vento, viajante e sombrio, levou com ele o pulsar de tua voz e o som de teu abraço. Agora tu, como qualquer outro objeto, precisas ser iluminada para que alguém veja que tu ainda existes. Aqueles que da escuridão vieram e escuros permaneceram fizeram de ti fonte de sorriso efêmero. Quando tremiam ao rir de ti, na verdade eram suas entranhas que estavam se retorcendo ao lembrar de suas próprias mazelas.

E tu pensavas que a errada era tu, Ana!

Deixaste o mundo te devorar para que tu virasses massa. E hoje tu vês que todos desejam ser foco, e não parte. Fizeram de ti exatamente o que queriam: Tornaram-te transparente, Ana, para que não vissem que tu valias a pena. Tu nasceras luz, e eles não suportaram a ideia de não terem nascido do mesmo jeito.

E agora tu só querias iluminar um só ser.

Com que forças tu fará isso, Ana?



P.S.: O texto original não tinha esse final. Mas fazer o quê? O vento e nem a massa perdoam.

domingo, 14 de março de 2010

Ruminando...

- Por que eu atraso pras coisas realmente necessárias e chego cedo nas supérfluas?

- Por que agora eu tenho mania de colecionar fotos 3 X 4?

- Por que eu sinto nojo de pessoas que compram só por comprar, mesmo sabendo que aquilo pode estar suprindo alguma atenção que lhe falta?

- Por que muitos acham que eu faço muito e eu acho que faço tão pouco?

- Por que meu orgulho é tão grande que me deixar passar vergonha às vezes?

- Por que pra mim é tão difícil dizer que amo alguém?

- Por que eu me sinto triste quando menstruo, já que ali é metade de um possível ser humano, e dificilmente haverá um homem que se sente triste quando libera milhões de espermatozóides à toa?

- Por que eu fiquei calada por tanto tempo, quando minha palavra poderia ter mudado totalmente o rumo das coisas?

- Por que eu ainda me pergunto tolices?

- E por que eu não sei responder essas tolices?




Deus, me desculpe, mas estou tentando me entender primeiro pra depois te entender melhor. Sei que esse é o único meio de fazer isso, mas sua filha aqui é meio lenta. Com paciência, ainda vou te mostrar que sirvo pra alguma coisa. Continue assistindo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Algo perdido

Corpo, espelho de minha falha
Tentas arrastar minha alma à tua farsa
Mas antes que me leves para a mais destilada desgraça
Irei desatar-me de tuas correntes de avareza

Caio nas mais tolas armadilhas de carne
E mesmo que eu escape sagazmente
Tu usas outros prisioneiros para me julgar
Usufruis da minha própria lama para me afogar

Triste fase de vangloriada efemeridade
Tantos choram partindo
Tantos choram para não partir
E eu imploro por forças para merecer sair
Herculeamente não posso seguir
Antes que queira forçar uma errônea saída

Tortura nauseante é encarar-me entre as pratas
Deus, como pude ser capaz de tal selvageria?
Transformei razão em veneno
Em vez de coragem, usei de covardia
Para ofender, sem qualquer lampejo de lucidez
Quem tanto bem eu queria

Agora, seguindo em meu baile de doces máscaras
Espero perdão, mesmo que seja improvável
Não de quem perfurei a chaga já aberta
Que, aliás, já me perdoara... Minha doce criatura
Mas espero perdão de quem vê a própria chaga apodrecer e não faz nada
Rogo o perdão a mim mesma, mas me nego a me deixar ir
Prefiro ver a dor do que negligenciar minha culpa