Até a 8ª série do Ensino
Fundamental, hoje em dia 9ª, eu sempre tirei notas muito boas. Havia quem
abrisse a boca pra dizer que eu era a melhor aluna da escola. Eu preferia que
ficassem de bico calado, tanto pela tolice dessa afirmação, quanto pra fugir do
bullying nosso de cada dia. Eu, gorda com “cabelo ruim” (que horror, esse
termo) aprendi que naquele tempo era melhor pra mim não chamar atenção. Hoje em
dia é outra história, mas meio que concordo com a Isolda daquele tempo.
Ser uma boa aluna era até fácil
para mim. O saber me era bastante novo e eu o devorava como forma de
sobrevivência. Ficava encantada até com matemática e física (o que é impensável
pra mim hoje em dia)! Eu achava quase tudo muito interessante. E até aquela
série não havia tirado nenhuma nota baixa. Um belo dia, um professor de
Filosofia resolveu me dar uma nota baixa. Se me lembro bem, era mês de setembro
e eu já estava com nota suficiente pra passar em tudo. Menos em Filosofia. E
quando vi minha prova e comparei com a dos colegas, vi que a única diferença é
que eu não havia repetido letra por letra aquilo que havia sido me ensinado.
Usei minhas próprias palavras. Que erro absurdo de minha parte!
Foi ali que comecei a perceber
que o ensino não é tão maravilhoso quanto eu achava que era. No ensino médio,
mudei para outro colégio, mas continuei com boas notas. Porém, o incômodo
aumentou. Eu não via muita graça naquilo que era ensinado. Foi ali que eu, sem
saber ao certo, começava a dividir conhecimento de informação. Ok, ainda tenho
uma ideia vaga do que seja um ciclo de Krebs; mas do que me serve esse tipo de
informação hoje em dia? Nada. É algo pra eu me gabar que tenho uma memória de
capacidade até razoável. Mas desculpa, ciclo de Krebs, eu sou (quase) jornalista.
Se eu precisar falar sobre Biologia, eu vou entrevistar de um biólogo.
Lembro que eu me convencia que
tinha que estudar algo por talvez haver alguma serventia na minha vida. Mas
houve um momento em que não deu mais pra me convencer. Na metade do 2º ano do
ensino médio, eu não fazia mais do que o básico para passar de ano. Tinha raiva
de ir à escola. Detestava ter que decorar mil coisas para fazer uma prova e
esquecer tudo logo depois. E ainda tinha (e tem) professor que se revoltava
quando nos questionava sobre a prova passada. Ninguém lembrava. Havia sido nos
passado dados, não conhecimento. Se houvesse algum sentido para nossa
existência, talvez houvesse algum interesse para se aprender.
Por ter percebido muito cedo que
acúmulo de dados não me faz crescer, eu não tenho títulos acadêmicos pomposos.
Não passei no vestibular num curso que faça meus pais extremamente orgulhosos e
que vá me dar muito dinheiro. Antes eu já não tinha paciência, agora tenho
ojeriza a estudar para concursos. Meu conhecimento não se mede em números. Meu
saber não se encaixa em citações e regras da ABNT. Tentar me encaixar nisso
tudo me deixou doente. Por isso, estudo e faço o que gosto, na hora que quero.
E isso dificilmente dá dinheiro. Por não ser colecionadora de dados, fui
destinada a tentar viver feliz com o conhecimento que me agrada, mas sem
brilhar com medalhas, diplomas e cédulas.
Um dia espero viver no mundo onde
se ensina aquilo que agrega conhecimento, constrói e descontrói paradigmas.
Dados, que sejam utilizados; conhecimento, que seja levado pro resto da vida.
Se você ver os olhos de uma criança brilharem a ver o processo de crescimento
de uma planta, ou com o ronco de um carro, ou com os grandes contos da
literatura, a encaminhe para o que lhe agrada. Comigo isso não acontece. Por
isso, vou crescendo como posso, me curando daquilo que me impuseram a fazer.
Sou sobrevivente do sistema de (des)ensino desse mundo que gira ao redor do
efêmero.