segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A lágrima alheia

Outras coisas me fizeram começar o dia enxergando tudo com uma sombra que vai demorar sair da minha vista. Seja minha alma que insistiu em não querer voltar pro corpo, sejam palavras jogadas no ar de quem acha que conhece cada partícula de ar que lhe rodeia. Até ai, nada que me fizesse querer chorar, correr pra bem longe e não querer voltar tão cedo, com vergonha de encarar a mim mesma. Mas ai eu entrei no ônibus. Minha única preocupação até aquele momento era chegar ao trabalho menos atrasada do que eu estava. Até que, um pouco antes de chegar meu ponto, eu olhei pra um garoto do meu lado e vi o que ele esperava que ninguém visse: Uma lágrima. Só uma, tímida, que escapou do olho dele sem que ele quisesse. Ele olhou pra mim assustado, mas ao mesmo tempo com um olhar que bastava um pouco de atenção para que lhe dissesse uma longa história. Percebi isso num milésimo de segundo, e nesse pouco tempo, tive que decidir entre descer do ônibus e pegar o próximo, ou abraça aquele garoto e perguntar o que o machucava tanto a essa hora da manhã. O que eu escolhi? A covarde opção de qualquer um. Sai no meio da manada apática e me senti mais uma. Com a diferença que eu segurava lágrimas que não eram minhas. Sentido a irresponsabilidade de quem se deixou levar pelo mais fácil. Pelo comum. Por esse mecanismo em que eu me enfiei pra talvez me livrar de outros. E assim eu segui pro meu trabalho. Não o odeio, muito pelo contrário. Mas hoje eu queria ser desempregada, ou menos mais livre de qualquer obrigação de horário. Poderia ter feito aquele garoto se sentir melhor e ter me feito sentir melhor. Passei a manhã inteira fingindo estar bem (aliás, minha especialidade), enquanto minha consciência pesava e minha visão ficava turva, encharcada, toda vez que eu lembrava. Não era só o menino. Era eu. Era tudo que eu dizia que não iria deixar pra trás. E de repente, deixei. Ainda segurando o mesmo choro de quem eu nem conheço, é que eu digo: Essa vida de negligência com o que realmente importa está com os dias contados. Na minha mente, só o que resta é o foco pra que tudo isso acabe e eu possa parar de ignorar as lágrimas dos outros. E as minhas também.