terça-feira, 14 de junho de 2011

Ciclo

Do fundo de um lago eu emergi. Nadei, sem muita pressa, até a margem. Quando vi que ia imergir novamente, nadei mais rápido. Sai andando pela margem, tateando, sem enxergar muito bem. Enxuguei-me daquela água que parecia querer penetrar em todos os meus poros à força e continuei. Caminhei estrada a frente, sem saber direito onde ela iria dar.

Na estrada, tudo era cinza. Previsivelmente, tudo ao redor dela era do mesmo jeito sempre, sem mudança nenhum e nenhuma vontade de mudar. Caminhei por ela por um bom tempo, procurando algo que me acordasse daquilo que parecia um sonho tedioso. E aquilo não vinha. Meus pés, descalços, já estavam cansados demais pra me sustentar por tão longo caminho sem destino certo.

Cheguei a algum lugar. Árvores cercavam algo que só daria pra ver se eu seguisse um pouco mais adiante. Não hesitei em atravessar as árvores, me machucando em seus espinhos, já que poderia ali achar o que tanto procurei. Vi margens rodeando águas calmas. No centro delas, um lago espelhado, que refletia tudo aquilo que eu tanto busquei andando naquela estrada aquele tempo todo. Iludida que ia ter tudo aquilo pra mim, mergulhei. Enquanto afundava, assistia meus desejos passarem por mim, deixarem seus cheiros e suas glórias bem perto, e partindo tão rápido quanto um desejo efêmero passa por alguém. Talvez o lago estivesse me julgado erroneamente. E depois de quase enlouquecer, tentando agarrar meus desejos dissolvidos nas águas, tive que respirar. Aquele ar fétido lá de fora ainda me deixa viva. E do fundo de um lago eu emergi novamente. De frente de uma estrada que parecia a mesma de antes.


P.S.: Se eu me arriscaria mais um vez por uma estrada cinza e por uma floresta cheia de espinhos? Sim. Até que minha estrada mude de cor. Ou até quando meus pés aguentarem.